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Geração Perdida de Minas Gerais
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lyrics

Eu queria dobrar o tempo como quem afunila com ar um naco de pedra.
E marcar nosso tempo antes que a cera, por fogo, derreta.
Eu não queria ter divisão, nem ter de pensar em doar parte do meu tempo.
Feito o horizonte, ser vislumbre do eterno. E poder dividi-lo com vocês.

Eu penso em marcar um tempo capenga, que titubeia.
Tempo imaginado de alguém que parece sempre perder a palavra.
Tempo feito de antônimos.

Um rascunho que seja em folhas de almaço.
Invento um capítulo, sorteio um parágrafo.
Queria inventar esse pedaço de significado que falta quando o vento buliça com os olhos.
E eles lacrimejam.

Talvez venha me cansando de me inventar assim triste, chantagista, daqueles que, tímidos,
sempre pedem olhares, sempre pedem exclusividade.
Ou talvez a eloquência dos gestos, as vozes que se desencontram sejam somente
Ruídos em um show barulhento.
E se percam em sussurros bêbados de meia noite.

Busco um rascunho de um tempo.
Mas não sei até que ponto a ficção pode me sustentar.
Queria saber-me meu, com desencontros que só se resolveriam com a espera.

Não nasci pra ser gauche, nem tenho saudades de trens que anunciam o moderno.
Não tenho roupa encharcada de pó, nem me enchi de chão.
Tenho sim um pedaço de tempo que já vem sendo debulhado por caminhos que desconheço.

Confesso: sou afeito a melancolias. Mas não sou nostálgico.
Respeito bastante minhas olheiras.
Sinto que sou por demais do meu tempo. Desse tempo nosso,
contemporâneo.
E é isso que eu quero: partilhar nosso tempo, embora o nosso tempo seja feito
de silêncios a anônimos.

Por isso me escrevo silencioso, sem grandiosos. Utopias, eu as guardo em um lugarzinho
em que eu posso atacá-las quando eu quero.
E eu as ataco, pois não me parece ser tempo delas.
Caminho sobre suas histórias, sorrio delas, com elas.
Mas me resguardo de sua sedução.

Escrevo pouco e sem vontade. E não sou grande leitor.
Mas escrevo Coletivo.
Sonho dobrar uma página dessas vozes todas. Todas minhas.
Sonho dobrar essas vidas de vozes que choram.

Escrever no tempo dessa dobra uma ficção de mim mesmo.

credits

from Amiudar, released August 26, 2014

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Marcelo Diniz Silveira Belo Horizonte, Brazil

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